Oficialmente Rotblat não é reconhecido oficialmente como um nobel polonês. Ele obteve o passaporte britânico em 1946 e em 1998, um titulo de nobre. Porém ele se apresentava como polonês com passaporte britânico. Em sua última entrevista, perguntaram se ele ainda falava polonês e ele, irritado, respondeu em polonês perfeito: “mas que pergunta boba! Eu fui e sou polonês. Só que depois da invenção da bomba atômica, não pude mais morar na Polônia”.

Ele foi cocriador da bomba atômica, porém após a Segunda Guerra Mundial, ciente do perigo que a arma traz consigo, Rotblat envolveu-se no movimento Pugwash contra o seu próprio invento. Em 1995 foi honrado com o Prêmio Nobel da Paz.

Józef Rotblat nasceu em 04/11/1908 em Varsóvia. Era físico, de família judaica. Começou seus estudos em 1928 em Varsóvia. Na época ele era eletricista, mas interessava-se por física, frequentava as aulas noturnas da universidade de Varsóvia enquanto trabalhava durante o dia como eletricista. Ao conquistar o título de mestre recebeu o certificado para trabalhar como professor, mas não só isso. Conseguiu um trabalho no laboratório de radiologia Towarzystwo Naukowe Warszawskie (Associação Científica de Varsóvia), onde trabalhou como assistente entre 1933 e 1939 e depois tornou-se substituto do diretor do Instituto de Física Atômica.

Teve como mentor e amigo o professor Ludwik Wertenstein, com quem discutia seu projeto de física atômica, as pesquisas teóricas e cálculos. Naquela época ele já se ocupava de trabalhos sobre a bomba atômica, iniciados na esperança de conseguir inventá-la primeiro que os alemães.

Até o momento em que defendeu seu doutorado, em 1938, sua carreira academia era comum. Mas depois disso começou a receber várias propostas. Pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, foi para Londres, em agosto de 1939. Continuou suas pesquisas em Liverpool sob a direção do professor James Chadwick, o qual naquela época iniciou a construção do cícloton. O Profesor Chadwick prezava muito o trabalho de Rotblat, por isso fez de tudo para levantar recursos e empregar também a esposa de seu jovem assistente no instituto, entretanto a eclosão da Segunda Guerra Mundial atrapalhou tais planos – a esposa de Rotblat nunca conseguiu chegar a Liverpool, apesar dos esforços de seus colegas da Dinamarca e Itália. Sabe-se que ela morreu num campo de concentração. Após a saída de Rotblat da Polônia, em 1939, eles nunca mais se encontraram e Rotblat nunca mais se casou.

Sobre sua esposa, Rotblat contou em sua última entrevista: “Cheguei na Inglaterra em 30 de agosto de 1939. O clima de guerra já estava instaurado. Minha esposa se juntaria a mim assim que conseguisse o visto inglês. No dia 03 de setembro a Inglaterra declarou guerra à Alemanha e então a viagem da Polônia para a Inglaterra ficou fora de cogitação. Demoramos 6 meses para conseguir contato pela Cruz Vermelha. A viagem seria possível, mas só para um país neutro. Eu via Nielsem Bohrem todos os dias durante o café da manhã. Ele conseguiu um convite da Dinamarca. Mas antes que minha esposa conseguisse sair, os paraquedistas de Hitler tomaram Copenhagen. Tínhamos parentes distantes na Bélgica, que enviaram um convite em tempo recorde, mas infelizmente as divisões blindadas de Hitler foram mais rápidas. Sobrara apenas a Itália que, em maio de 1940 não estava em guerra com a Inglaterra. Meus colegas de Milão conseguiram o visto. Minha esposa estava sentada no trem quando Mussolini declarou guerra à Inglaterra em 10 de junho de 1940. Estou esperando minha esposa até hoje. E assim terminou a história da minha vida privada.”

Apesar dessa tragédia, ele não teve muito tempo para se lamentar. O governo do reino Unido permitiu que os cientistas britânicos fossem trabalhar no projeto de pesquisa ligado à bomba atômica nos EUA. Rotblat juntou-se à equipe, apesar de ainda não ser cidadão britânico. Os americanos aceitaram sua candidatura com restrições, em 1942 ele chegou a Los Alamos. Depois de muitos anos, Jack Harris escreveu sobre Rotblat: “JR não era feliz em Los Alamos. De um lado ele estava frustrado, pois sua experiência e talento não eram aproveitados de maneira certa e por outro lado ele se preocupava com o aspecto moral do empreendimento. Suas dúvidas ficaram mais fortes quando ouviu do administrador do projeto, o general Leslie Groves, que o verdadeiro motivo para o projeto da bomba atômica era conquistar vantagem sobre a Rússia. Quando em 1944 ficou claro que os alemães não seriam capazes de construir sua própria bomba atômica, Rotblat decidiu desistir de sua participação no projeto e a voltar para Liverpool. Chadwick ficou triste, mas ajudou Rotblat a organizar sua volta e em breve descobriu que Rotblat era considerado como um espião em potencial. Apesar disso, ele não se livrou até o fim da vida do peso na consciência ligado ao trabalho de criação da bomba. Esse foi um dos tantos motivos que o levou a se envolver no desenvolvimento da medicina nuclear logo após sua volta para Liverpool. Entretanto ao saber das explosões de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki ele decidiu agir ativamente para a abolição da bomba. De um lado ele trabalhava em pesquisas sobre terapia radioativa e de outro participava de ações para a popularização do conhecimento sobre o que é uma bomba atômica, quais ameaças causa para o mundo e por que a humanidade deveria desistir dos trabalhos para aperfeiçoá-la. Em Londres Rotblat tornou-se diretor da Cátedra de Física Médica do Hospital São Bartolomeu. Lá trabalhou com o aproveitamento da radiação em técnicas terapêuticas e de diagnóstico. Nesses trabalhos foi estabelecida a possibilidade de surgimento de tumores em organismos saudáveis devida à radiação ionizante.

Rotblat também participou ativamente da associação Atomic Scientists Association (ASA), à qual pertenciam quase todos os físicos famosos que participaram das pesquisas sobre a bomba atômica. A associação alocava muitos fundos e esforços na divulgação sobre a energia nuclear, seu uso na indústria e na medicina e também para informar sobre as ameaças que o desenvolvimento de armas atômicas e a radiação em larga escala causam à população.

Nos anos 1950 aconteceram muitas explosões atômicas na atmosfera, causadas sobretudo pela URSS e pelos EUA. A força dessas explosões chegava a ser mil vezes maior que as explosões em Hiroshima e Nagasaki. Józef Rotblat, que na época já não tinha mais acesso aos relatórios científicos relacionados a essas explosões, com base exclusivamente nos informes da imprensa determinou com aproximação a força das explosões e a forma de aproveitar essa energia tão forte (método da fissão-fusão-fissão). A publicação dessas observações amentou a fama de Rotblat não só entre os físicos.

Anos após a guerra, o famoso físico e matemático Bertrand Russell, temendo o desenvolvimento dos trabalhos sobre a bomba atômica começou a mobilizar os cientistas famosos a se envolverem contrariamente a tais práticas. Russel entendeu-se com Rotblat e em conjunto elaboraram o documento, o qual chamaram de „Manifesto Russell-Einstein”, o qual deveria chamar a atenção dos cientistas para o problema do intenso desenvolvimento dos estudos sobre a bomba atômica. O manifesto contém, antes de tudo, um alerta sobre as consequências da utilização da bomba atômica, informações sobre seu enorme poder de destruição e sobre a dificuldade de prever as consequências de curto e longo prazo de um conflito atômico.

Um trecho do Manifesto diz: “sem dúvida, numa guerra, na qual seria usada a bomba atômica, desapareceriam as maiores cidades. Mas esse seria um dos menores males para a humanidade. Se em Londres ou em Nova Iorque ou em Moscou todos os habitantes, até o último, fossem exterminados, em alguns séculos o mundo se recuperaria disso. Mas hoje se sabe, principalmente desde a época dos experimentos no Arquipélago de Biquini, que a bomba atômica pode ampliar a devastação para uma área muito maior que de se pensava até então”.

A versão definitiva do manifesto termina com um apelo ao meio científico e principalmente aos governantes: “levando em consideração que na próxima guerra mundial a bomba atômica será usada e que essa bomba ameaça a existência da humanidade, exigimos dos governos a confirmação pública que não é seu objetivo preparar um conflito mundial e que buscarão a paz mundial acima de tudo.”
O manifesto foi anunciado em 9 de julho de 1955 em Londres e seus signatários foram Józef Rotblat, Bertrand Russell, Frederic Joliot-Curie i Albert Einstein.

Exatamente a partir deste grupo desenvolveu-se posteriormente o grupo PUGWASH, um sistema internacional de conferências que permitiram a mudança de ponto de vista de cientistas, diplomatas, políticos e jornalistas do mundo todo. A primeira conferência internacional do PUGWASH aconteceu em julho de 1957, na cidade de Pugwash no Canadá. Nos anos seguintes aconteceram 63 conferências mundiais e 250 simpósios, 10 deles na Polônia.

Em seus discursos, o professor Rotblat não apenas uma vez sugeriu ao meio científico a criação de um código de ética obrigatório aos cientistas, o qual regularia sua participação nos trabalhos de desenvolvimento de tecnologia que pudessem vir a constituir ameaça à humanidade. Rotblat estava convencido de que a busca de lucros frequentemente cega as pessoas, que não percebem o risco ligado às novas tecnologias. Propôs que após a conclusão dos estudos os cientistas fizessem um juramento no modelo do juramento de Hipócrates, de que vão analisar escrupulosamente as potenciais consequências do uso de todas as tecnologias e não vão introduzir no mercado novidades que ameacem a humanidade. Suas propostas foram citadas muitas vezes como exemplo de utilização responsável e ética do desenvolvimento da tecnologia.

Atualmente considera-se que a atividade de Rotblat levou ao desenvolvimento de contatos políticos entre países de interesses antagônicos, especialmente USA e URSS e, por sua vez levou à celebração de tratados de limitação de armamentos, especialmente nucleares (Tratado de Tlatelolco - 1967, de Não Proliferação - 1968, Tratado de Mísseis Antibalísticos - 1972, Convenção de Armas Biológicas - 1972, Convenção de Armas Químicas - 1993). Em reconhecimento à ação de Rotblat nesse campo em 1995 foi conferido a ele e ao Movimento Pugwash (meio a meio) o prêmio Nobel da Paz.

Rotblat ficou famoso como autor de mais de 400 publicações, entre elas 24 falando sobre o problema da física nuclear, física médica e radiobiologia, riscos e consequências da guerra nuclear e a eliminação da bomba atômica. O Nobel não foi seu único sucesso: ele recebeu numerosas honrarias científicas, entre elas o título de doutor honoris causa de várias universidades e tornou-se membro de muitas academias científicas europeias e americanas. Recebeu muitas medalhas e distinções na Inglaterra, Bulgária, Japão e Polônia.
Não é segredo que o professor gostava de viajar à Polônia e apresentar seu ponto de vista ao meio polonês. Até o fim de sua vida utilizava-se de um polonês literário, e se interessava muito pelo desenvolvimento da ciência na Polônia. Foi surpreendido pela morte durante os preparativos para uma viagem à Varsóvia, em 31 de agosto de 2005, aos 96 anos. Infelizmente, apesar de tudo o que fez, não é muito conhecido na Polônia.